Maior ilha fluvial do mundo



Maior ilha fluvial do mundo está 




deixando de ser ilha


A água do Araguaia e seus afluentes também é usada para irrigar lavouras e até pastos. A região do Bananal estaria deixando de ser ilha, durante até nove meses do ano. O cerrado já perdeu metade de sua vegetação original.

O fogo avança rápido, morro acima, e logo destroi o pasto que alimentaria 90 vacas durante meses. O dono da pequena propriedade está desolado. “Nessa época do ano, queima demais. Não sei como começa um fogo desses. Só pode ser alguém, um toco de cigarro, alguma coisa”, afirma o fazendeiro Valdivino Lopes Cardoso.
O fogo também destruiu 90% do Parque Nacional das Emas. Há suspeitas de incêndio criminoso.
Estamos no município de Mineiros, em Goiás, junto às divisas do Mato Grosso e do Mato Grosso do Sul. A paisagem é dominada por grandes fazendas, com pastos e lavouras a perder de vista, como a de algodão. O Araguaia nasce nessa região, em áreas particulares.
O fazendeiro Milton Fries é dono da propriedade onde estão algumas das nascentes do Araguaia. “Em uma circunferência de um metro, nasce o Rio Araguaia. Empolga dizer que a dois mil quilômetros daqui para baixo o Araguaia é um rio de dimensões gigantes”, declara.

Milton é um dos fazendeiros que, segundo o Ibama, hoje tentam consertar erros do passado. O desmatamento e o mau uso do solo deixaram feridas: erosões, as chamadas voçorocas. Em uma delas, a terra desprotegida foi rasgada por enxurradas e escorreu para dentro do jovem Araguaia.

Segundo o Ibama, a primeira providencia é abandonar essas áreas. “O tempo é de trégua. Se você propicia isso para a natureza, ela tem uma capacidade de reação que nos propicia recriar ambientes”, explica o superintendente do Ibama em Goiás, Ary Soares dos Santos.

Dispersão de sementes e plantação de espécies nativas também ajudam. “Popularmente se fala que o cerrado é um dos poucos ambientes que aguenta pressão, que responde mesmo sendo maltratado, quando você dá oportunidade para ele de reprodução”, aponta Ary.

A geógrafa Selma Simões de Castro, da Universidade Federal de Goiás, é menos otimista. Os dados mostram um desmatamento excessivo junto as nascentes do Araguaia, em áreas impróprias para a agricultura. “Uma das ameaças é a descarga de sedimentos que pode levar consigo agrotóxicos também utilizados na agricultura, na pecuária”, aponta a pesquisadora.

A água do Araguaia e seus afluentes também é usada para irrigar lavouras e até pastos. São usados equipamentos enormes.
A própria região do Bananal, a maior ilha fluvial do mundo, estaria deixando de ser ilha, durante até nove meses do ano. “Já há uma forte sedimentação. E na estação seca, essa sedimentação fica muito evidente, meio que já conectando a ilha com o outro lado do Rio Javaés”, revela a geógrafa Selma Simões de Castro. “Pelo menos, no sul dela, nós já temos evidências de um forte assoreamento e que já está conectando essa ilha ao lado de lá”.

Nossas andanças comprovam isso. Em uma certa noite, cruzamos o Rio Javaés de carro, orientados apenas por uma lanterna, do outro lado, em plena Ilha do Bananal.
O cerrado já perdeu metade de sua vegetação original. Ficou rico e mundialmente famoso como celeiro de alimentos, área agrícola, hoje, indispensável para o Brasil produzir e preservar. Esse é o próximo desafio.
“Não adianta eu fazer um planejamento apenas para desenvolvimento econômico, eu quero desenvolvimento social junto e quero que a questão ambiental seja considerada”, aponta a geógrafa Selma Simões de Castro, da Universidade Federal de Goiás.

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