ESCULTURAS NO BRASIL.


Escultura do Brasil

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Aleijadinho: Anjo do Getsêmani, Santuário do Bom Jesus de Matosinhos.
escultura no Brasil acompanhou as correntes estéticas que animaram o desenvolvimento desta arte em outros países do ocidente, especialmente os europeus, de onde vieram as principais influências que fecundaram o solo artístico brasileiro. Ao longo dos últimos 500 anos de sua história, o Brasil testemunhou um florescimento particularmente rico da escultura no período barroco, com um estilo geral unificado, e a partir do século XX, quando predomina a diversidade

Origens

Frei Agostinho de Jesus:Nossa Senhora do Rosário.
As primeiras notícias de esculturas no Brasil datam do final do século XVI, quando algumas vilas já se haviam estabelecido no litoral e se iniciava a construção de templos e edifícios públicos. Neste período inicial a maior parte das obras ainda era importada da Europa, especialmente de Portugal, a metrópole colonizadora.
Grande parte da atividade escultórica autóctone se limitava aos trabalhos de talha decorativa em madeira e, em menor grau, em pedra. Um dos primeiros nomes dignos de lembrança no século XVII como entalhador de refinado talento é o Frei Domingos da Conceição, que trabalhou no Mosteiro de São Bento, no Rio de Janeiro.
Também se iniciou alguma atividade na estatuária em peças de devoção religiosa, onde a primeira figura a se destacar foi o Frei Agostinho da Piedade, deixando criações de serena beleza e grande sensibilidade, de perfil barroco mas ainda devedoras ao espírito renascentista, num estilo misto que seria comum aos dois primeiros séculos de colonização.[2] Frei Agostinho é considerado o fundador da escultura nacional, dedicando-se ao gênero que conheceria um desenvolvimento extraordinário em terras brasileiras e se constituiria num dos mais típicos distintivos culturais do Brasil até os dias de hoje: a imaginária sacra barroca, que em seus melhores momentos se equipara à grande tradição européia. Outro nome importante da época é o do Frei Agostinho de Jesus, também produzindo obra de grande qualidade em estilo semelhante.

[editar]O Barroco

Nossa Senhora da Piedade, na Matriz de Santo Antônio, Recife.
São Francisco Xavier, arte missioneira no Museu Júlio de Castilhos.
Cristo ressurrecto, escola baiana, século XVIII.
Nos séculos XVII e XVIII, com o avanço dos colonizadores em direção ao interior do país, fundando novas cidades e novos mercados, e com a relativa estabilização da economia levando a um rápido crescimento dos povoados mais antigos no litoral, paralelamente à descoberta de grandes riquezas em ouro e diamantes no território nacional, houve condições para que a arte recebesse maior atenção, e a escultura, em suas variadas manifestações, floresceu de forma notável, e sempre no terreno sacro.
Numa cultura fortemente marcada pela influência da religião, o catolicismo barroco, com seu apelo aos sentidos físicos como instrumentos de transcendência e sua pedagogia de índole emocional e cenográfica, forneceu o pretexto perfeito para que se gastassem elevadas somas em feéricas decorações de templos, conventos e mosteiros, tanto para melhor honrar a glória do Criador como, didaticamente, para dar meios visíveis aos fiéis ignorantes para que pudessem elevar seus pensamentos, através da beleza e da teatralidade das figuras de santos em cenários evocativos, em direção às coisas divinas, e inspirar à piedade, ao arrependimento, ao amor e à devoção.
Com aqueles objetivos, começou a se popularizar uma forma especial de estatuária conhecida pelo nome deestátuas de roca, com membros articulados e vestidos de tecido. Era esculpida apenas parcialmente, nas partes do corpo que ficavam visíveis como a cabeça, mãos e pés. Este gênero nasceu para um uso claramente cenográfico, sendo colocadas em ambientes ou sobre carros decorados construídos para cada ocasião, e assumiam posturas diversas de acordo com o progresso da ação cênica piedosa que se desenvolvia em representações de mistérios sacros ou nas procissões.

[editar]A arte missioneira

Neste período, isolados do resto do país por estarem em uma área na época sob domínio espanhol, se formaram ativos centros culturais na região sul por obra dos padres Jesuítas, fundadores de diversos aldeamentos para indígenas, as chamadas Missões. Nestes locais se desenvolveu rica tradição de escultura e talha, ao par do cultivo de outras artes, e criou-se um acervo de obras importantes das quais muitas são de autoria indígena, hoje preservadas em museus e coleções particulares, especialmente noMuseu das Missões, dedicado exclusivamente a esta produção de características únicas.

[editar]Os centros principais

À parte o foco isolado das Missões no sul, não integrado à esfera portuguesa, e apesar da expansão da civilização e da cultura por novas áreas, os principais centros produtores e consumidores de arte ainda eram os do Nordeste - SalvadorRecife e Olinda - e em menor grau o Rio de JaneiroSão Paulo e Goiás. É preciso assinalar que a presença de estatuária de origem portuguesa no período colonial foi sempre expressiva, sendo constantemente importada da metrópole, pois era preferida pelos ricos pelo seu melhor acabamento e expressividade, e este grande grupo de obras, ainda visível em inúmeras igrejas brasileiras, foi modelo para a produção mais artesanal da terra.
A produção local cresceu imenso. A maciça maioria das obras que nos chegaram desta fase permanece anônima, e expressiva parcela evidencia ter saído de mãos do povo, sem grande educação no ofício, já que a expansão da demanda por estatuária não foi acompanhada pelo surgimento de escolas oficiais ou sequer havia grande número de mestres ilustres, e o aprendizado do artista-artesão brasileiro se deu muitas vezes pela simples observação e cópia de modelos europeus que encontrava em algum altar importante. Mesmo assim esta produção, ainda um pouco tosca e ingênua se comparada aos protótipos eruditos europeus, se destaca exatamente por compensar suas deficiências formais através de uma criatividade exuberante e por contribuir para a formação de uma sensibilidade tipicamente brasileira.[3] Entre os pouquíssimos autores conhecidos do século XVII estão José Eduardo Garcia, português, e Francisco das Chagas, o Cabra, ambos ativos em Salvador.
Contudo, por volta da metade do século XVIII, com a sedimentação da cultura nacional e a multiplicação de artífices cada vez mais capazes, nota-se um crescente refinamento nas formas e no acabamento das imagens, e logo aparecem imagens de grande expressividade, como uma Nossa Senhora das Mercês paulista, hoje na Casa Paroquial de São Luiz em Piratininga, uma série de pequenos Meninos Jesus baianos, preservados no Museu dos Presépios de São Paulo, a estatuária nos altares da Basílica de Nossa Senhora do Carmo em Recife, e diversas outras. Salvador em especial tornou-se um centro exportador de estatuária para os mais distantes pontos do Brasil, incluindo-se uma interessante produção de miniaturas, sendo encontradas peças com características tipicamente baianas em locais tão afastados entre si como Goiás, Santa Catarina e Maranhão, criando uma escola que pouco deu-se conta do neoclassicismono século XIX e não conheceu solução de continuidade senão com o advento da industrialização em massa de objetos de devoção em gessono século XX. O principal nome na escola baiana é o de Manuel Inácio da Costa.[4]

[editar]A escola mineira

Aleijadinho: Cristo orando no horto das Oliveiras, Congonhas. A Via Sacra de Aleijadinho em Congonhas representa o ápice da escultura barroca no Brasil.
Neste período os grandes centros citados antes consolidam sua posição de dominância, mas ao mesmo tempo aparecem outros que se desenvolveriam de modo igualmente brilhante. Destes sem dúvida o mais significativo seria o das Minas Gerais, que nasceu em função da descoberta de ouro e diamantes na região de Ouro PretoDiamantinaSabará eCongonhas do Campo. Nestas cidades e em muitas outras do estado foram erguidos inúmeros templos, já num estilo rococó, célebres por sua decoração extraordinariamente rica e sofisticada, e ali apareceu o primeiro escultor brasileiro de estatura artística realmente elevada, o Aleijadinho, um dos marcos da arte nacional e maior representante da escultura barroca no Brasil.
Escultor, arquiteto e entalhador, Aleijadinho deixou trabalhos em um estilo inconfundível em várias cidades mineiras. Sua maior criação é o ciclo da Paixão de Cristo, com 66 figuras em cedro que reproduzem o caminho do Gólgota, instaladas em capelas ao pé do Santuário do Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas do Campo. No adro da igreja outro grupo escultórico, em pedra-sabão, representando 12 profetas, completa este conjunto que é uma das maiores obras-primas da escultura nacional de todos os tempos.
Se por um lado a riqueza extraída das minas favoreceu o florescimento de todas as artes, por outro, aspecto sintomático de uma situação de colônia, e peculiar mas não exclusivo ao caso mineiro, fez com que continuasse e mesmo aumentasse a importação de imagens estrangeiras, consideradas mais perfeitas e desejáveis, e os trabalhos mais destacados que ainda vemos em tantos altares nada têm de brasileiro, embora tenha desempenhado um papel central na determinação do estilo geral. Neste contexto compreende-se o motivo de a criatividade autóctone ter-se direcionado mais à esfera privada, nas inúmeras estatuetas de culto doméstico que ainda sobrevivem em grande número e cuja qualidade supera em muito o mero artesanato. Já para o fim do século são registrados alguns nomes: um certo Mestre de PirangaFrancisco Xavier de Brito e Francisco Vieira Servas.[5]

[editar]A talha dourada e o mobiliário esculpido

Acompanhando o desenvolvimento da estatuária, a talha dourada também chegou a um alto nível de complexidade e refinamento, e permanece preservada in situ em uma profusão de templos coloniais. Dentre as inúmeras igrejas brasileiras afamadas por sua riquíssima decoração esculpida estão a Igreja de São Francisco, em Salvador, a Capela Dourada e a Basílica de Nossa Senhora do Carmo, em Recife, o Mosteiro de São Bento e o Convento de São Francisco em Olinda, o Mosteiro de São Bento, no Rio de Janeiro, e uma série de igrejas de Minas Gerais, especialmente a de Nossa Senhora do Ó em Sabará e a Igreja de São Francisco em Ouro Preto, todas profusamente ornamentados, um patrimônio do mais alto valor que em parte foi tombado pela UNESCO.
Também o mobiliário entalhado se disseminou e atingiu um nível de excelência em cadeiras, mesas, oratórios, arcazes, armários e bancadas, tanto para uso privado e secular como para provimento de conventos e sacristias.

[editar]Século XIX

interior da Igreja de Nossa Senhora da Conceição, em Viamão, RS.
Sagrado Coração de Maria, na igreja de Nossa Senhora das Dores em Porto Alegre. Exemplo de estatuária sacra neoclássica no sul, meados do século XIX.

[editar]Centros do barroco tardio

Aleijadinho morreu em 1814, e com ele uma era, mas a tradição barroca, em descompasso com o que acontecia na Europa e mesmo no centro do país, perpetuou-se no Brasil até o início do século XX em vilarejos isolados alheios ao movimentos progressistas, e prosseguiu com certa força especialmente na Bahia, mas também no Rio Grande do Sul, Goiás e outros pontos nordestinos. No Rio Grande, no século XIX, foram erguidos alguns templos barrocos belamente decorados com entalhes e estátuas nas cidades de Porto Alegre, (a antiga Igreja do Rosário, desaparecida; a antiga Matriz, que teve o mesmo destino, a Igreja de Nossa Senhora das Dores e a de Nossa Senhora da Conceição, ambas já com influência neoclássica), Viamão (Igreja da Conceição), um pouco anterior, e Triunfo.
Significativamente, a madeira, material preferido no barroco, vai sendo abandonada pelo mármore e pelo bronze, e a partir de 1850 é introduzida a técnica dos moldes em gesso, iniciando o processo industrial em larga escala de reprodução de estatuária, com sensível queda na qualidade geral.[6] Contudo, centros de produção como o do Vale do Paraíba contribuíram com peças interessantes na técnica do gesso oco, seguindo um estilo neoclássico com alguns traços ainda barrocos. Entre os últimos representantes da longa tradição barroca podem ser citados o baiano João Guilherme da Rocha Barros, ativo até c. 1900, e o paulista José Benedicto da Cruz, ativo com um estilo popular até 1923, anacronismos que não obstante realizaram peças louváveis.

[editar]Neoclassicismo e Romantismo

Por volta de 1800, com o esgotamento das minas, o equilíbrio econômico da colônia se altera, e ao mesmo tempo começa a ser notada uma modificação no estilo geral. Os panejamentos agitados das imagens se tranqüilizam e as expressões dramáticas perdem lugar, adequando-se à tendência neoclassicista que penetrava por diversas portas. As grandes cidades do Nordeste entram em declínio e as riquezas afluem para São Paulo, que vinha prosperando com a cultura do café, e para o Rio de Janeiro, agora sede da corte portuguesa.
chegada da corte em 1808 provocou uma revolução cultural na cidade, que com o tempo foi-se irradiando pelo resto da colônia. A presença de grande quantidade de nobres ilustrados que até então viviam em uma atmosfera completamente diversa e cosmopolita, a abertura dos portos às nações amigas, a liberação da indústria, a criação de uma imprensa, os arquivos, obras de arte e bibliotecas que vieram junto, todos estes fatores causaram um forte impacto na até então pacata e relativamente obscura vida cultural do Rio, que de súbito foi elevada a centro das atenções de um país de dimensões continentais. Foram fundados museus, teatros e casas de ópera, e com a chegada da Missão Francesa em 1816, composta por um grupo de artistas da França, onde o neoclassicismo já estava plenamente estabelecido, foram introduzidas novas tendências e técnicas escultóricas na capital, e a arte secular conheceu grande estímulo.
Marc Ferrez: Busto de D. Pedro I. Museu Histórico Nacional.
No âmbito da escultura erudita a produção se concentrou em torno da Escola de Belas Artes, criada nos moldes da academia francesa a partir de um projeto de Joachim Lebreton,[7] instituindo pela primeira vez no país o ensino oficial de escultura. De início foram indicados como professores Auguste-Marie Taunay (que não chegou a lecionar), João Joaquim Alão, português, e Marc Ferrez, filho do escultor e gravador Zéphyrin Ferrez e tio do famoso fotógrafo de mesmo nome, que produziu peças seminais para os futuros rumos desta arte no Brasil.[8] Marc Ferrez foi mestre de Honorato Manoel de LimaFrancisco Elídio Pânfiro e Francisco Manuel Chaves Pinheiro.
Rodolfo Bernardelli:Cristo e a mulher adúltera, MNBA.
Mas a evolução da Escola neoclássica não foi em nada tranqüila. A instituição foi atacada em várias frentes e quase foi fechada, e as infindáveis disputas entre os nacionais, aferrados ao conhecido, e os estrangeiros progressistas prejudicaram seriamente a criatividade e a produtividade dos alunos, e até meados do século quase nada de valor apareceu nesta espécie de arte.[9]
Pânfiro sucedeu Ferrez na cátedra, e foi o autor da decoração do Salão Nobre da Escola. Sucedeu-o Chaves Pinheiro, que pelos 33 anos seguintes dominaria a cena escultórica da Escola, já então Academia Imperial. Foi autor prolífico e exímio bronzista, mas sua obra está dispersa e foi pouco estudada até hoje, mas podem ser citados como exemplos de seu estilo clássico, digno mas um tanto convencional, uma Estátua eqüestre de Dom Pedro II [10], hoje no Museu Histórico Nacional, e O ator João Caetano representando como Oscar [11] na praça Tiradentes do Rio.
Aluno de Chaves Pinheiro foi Cândido Caetano de Almeida Reis, vencedor do Prêmio de Viagem ao Estrangeiro em 1865, estudando na França e sendo influenciado por Puget, um romântico, produzindo obras que não foram bem aceitas na Academia, perdendo sua bolsa e tendo de voltar ao Rio. Mas deixou obras muito expressivas como a Alma penada [12] e Dante ao voltar do exílio.
Outro dos alunos de Chaves Pinheiro foi Rodolfo Bernardelli, este sim uma figura importante, prestigiadíssimo em vida como artista e de atuação controversa como diretor da instituição, já na República. Deixaria obra extensa e de alto nível de linha romântica, como um Santo Estêvão [13], o Cristo e a mulher adúltera, um Monumento eqüestre ao General Osório [14] e a Morte de Moema.

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