Era dos Descobrimentos- Parte 2


O Tratado de Tordesilhas (1494)

Meridiano de Tordesilhas (rosa) de 1494 e o seu antimeridiano (verde) estabelecido pelo Tratado de Saragoça em 1529.
Depois da chegada de Colombo às "Índias Ocidentais", uma divisão de influência tornou-se necessária para evitar o conflitos entre espanhois e portugueses.[30] Isto foi resolvido em 1494, com o Tratado de Tordesilhas que "dividia" o mundo entre as duas potências.
Imediatamente após o regresso de Colombo, em 1493, os reis católicos tinham obtido do papa Alexandre VI a bula pontifícia Inter caetera afirmando que todas as terras a oeste e sul de ummeridiano 100 léguas a oeste do Açores ou das Ilhas de Cabo Verde deveriam pertencer à Espanha e, mais tarde, incuindo todos territórios da Índia. Não mencionava Portugal, que não podia reivindicar terras recém-descobertas nem sequer a leste desta linha. O rei D. João II de Portugal não ficou satisfeito com o acordo, sentindo que este lhe dava pouca margem - impedindo-o de chegar à Índia, seu objectivo principal. Negociou então directamente com o rei Fernando de Aragão e a rainha Isabel de Castela para mover esta linha para oeste, permitindo-lhe reivindicar todas as terras recém-descobertas a leste do mesmo.[31]
No Tratado de Tordesilhas de 1492 os portugueses "recebiam" todos os territórios fora da Europa a leste de um meridiano que corria 270 léguas a oeste das ilhas de Cabo Verde, o que dava o controlo sobre a África, Ásia e leste da América do Sul (Brasil). Aos espanhóis foram atribuídos todos os territórios a oeste dessa linha, ainda quase totalmente desconhecidos, e que se revelaram ser principalmente a parte ocidental do continente americano e as ilhas do Oceano Pacífico.

[editar]O Novo Mundo (1497-1507)

Nau de Pedro Álvares Cabral no Livro das Armadas (Biblioteca da Academia das Ciências de Lisboa).
Só uma pequena parte da área dividida pelo Tratado de Tordesilhas havia sido vista pelos europeus, sendo dividida apenas no papel. Imediatamente após a primeira viagem de Colombo vários exploradores navegaram na mesma direção. Em 1497, Giovanni Caboto, também um italiano, obteve uma carta-patente do rei Henrique VII de Inglaterra. Partindo de Bristol, provavelmente apoiado pela associação local "Society of Merchant Venturers", Caboto cruzou o Atlântico mais a norte, esperando que a viagem fosse mais curta[32] e aportou algures na América do Norte, possivelmente na Terra Nova. Em 1499, João Fernandes Lavrador foi licenciado pelo rei de Portugal[33] e, juntamente com Pêro de Barcelos, pela primeira vez avistou o Labrador, que lhe foi concedido e nomeado em sua homenagem. Após regressar possivelmente foi para Bristol, navegando em nome da Inglaterra.[34] Praticamente ao mesmo tempo, entre 1499-1502, os irmãos Gaspar e Miguel Corte Real exploraram e nomearam as costas da Gronelândia e da Terra Nova. Ambas as explorações foram assinaladas noplanisfério de Cantino de 1502.

[editar]As "verdadeiras Índias", o Brasil e a América

Pormenor do mapa de Martin Waldseemüller de 1507 onde se lê o nome "América" pela primeira vez.
Em 1497, cumprindo o projecto do seu antecessor de encontrar uma rota para as Índias, o recém-coroado rei D. Manuel I de Portugal enviou uma frota exploratória para este. Em Julho 1499 espalhou-se a notícia de que os portugueses tinham chegado às "verdadeiras Índias", como constava numa carta imediatamente enviada pelo rei Português aos Reis Católicos um dia após a chegada da celebrada frota.[35]
Ao mesmo tempo que Colombo embarcava em duas novas viagens para explorar a América Central entrando em conflito com a coroa espanhola, uma segunda grande armada Portuguesa foi enviada para a Índia. A frota de treze navios e cerca de 1.500 homens partiu de Lisboa em 9 de Março de 1500. Comandada por Pedro Álvares Cabral, incluia uma tripulação experiente, incluindo os peritos Bartolomeu DiasNicolau Coelho e escrivão Pêro Vaz de Caminha. Para evitar a calmaria ao largo da costa do Golfo da Guiné, navegaram na direcção sudoeste, numa grande "volta do mar". Em 21 de Abril avistaram uma montanha que nomearam "Monte Pascoal", em 22 de Abril desembarcaram na costa, e no dia 25 de Abril toda a frota velejou para um porto que chamaram "Porto Seguro". Cabral tendo percebido que a nova terra estava a leste da linha de Tordesilhas, logo enviou um emissário a Portugal com a importante notícia, acreditando que as recém-descobertas terras eram uma ilha, que denominou "Ilha de Vera Cruz". Alguns historiadores defendem que os portugueses já sabiam da existência do bojo formado pela América do Sul ao realizar a chamada manobra de "volta do mar", por isso a insistência do rei D. João II em mover para oeste a linha de Tordesilhas, afirmando que o desembarque no Brasil pode não ter sido acidental.[36]
A convite do rei D. Manuel I de PortugalAmérico Vespúcio[37] - um florentino que trabalhara para uma dependência do banco Medici em Sevilha desde 1491 equipando as frotas oceânicas, e que por duas vezes viajara às Guianas com Juan de la Cosa ao serviço da Espanha[38] - participou como observador nas primeiras viagens exploratórias à América do Sul entre 1499 e 1502, expedições que se tornaram amplamente conhecidas na Europa depois de dois relatos que lhe são atribuídos, publicados entre 1502 e 1504.
Depressa se percebeu que Colombo não tinha chegado à Ásia, mas sim ao que era visto pelos europeus como um Novo Mundo: as Américas. A América foi assim nomeada pela primeira vez em 1507 pelos cartógrafos Martin Waldseemüller e Matthias Ringmann, provavelmente inspirada em Américo Vespúcio,[39] o primeiro Europeu a sugerir que as terras recém-descobertas não eram Índia, mas um "Novo Mundo" ou "Mundus Novus"[40], o título em latim do documento baseado nas cartas de Vespúcio a Lorenzo di Pierfrancesco de Médici, que então se havia se tornado muito popular na Europa.[41]

[editar]Exploração no Oceano Índico

[editar]O caminho marítimo para a Índia e as expedições portuguesas no Índico (1498-1517)

Caminho percorrido pela expedição deVasco da Gama (a preto), por Pêro da Covilhã (a laranja) e de Afonso de Paiva (a azul) depois da longa viagem juntos (a verde).
Protegida da concorrência directa espanhola pelo Tratado de Tordesilhas, a exploração portuguesa continuou a ritmo acelerado. Por duas vezes, em 1485 e em 1488, Portugal rejeitara oficialmente a proposta de Cristovão Colombo de chegar à Índia navegando para oeste. Os peritos do rei eram da opinião que a estimativa de Colombo de uma viagem de 2.400 milhas (3.860 km) estava subavaliada. Além disso pouco depois, Bartolomeu Dias regressara a Portugal a seguir a dobrar com sucesso a ponta sul da África, mostrando que o oceano Índicoera acessível pelo Atlântico e, portanto, sabiam que navegando para oeste para chegar às Índias exigiria uma viagem muito mais longa.
Após o contornar do Cabo da Boa Esperança por Bartolomeu Dias em 1487, e Pêro da Covilhã ter atingido a Etiópia por terra, mostrando que a riqueza do oceano Índico era acessível a partir do AtlânticoVasco da Gama partiu rumo à descoberta do caminho marítimo para a Índia, e chegou em Calecute em 20 de maio de 1498, retornando em glória para Portugal no ano seguinte. Em 1500, na segunda expedição enviada para a Índia, Pedro Álvares Cabral avistou o litoral brasileiro. Dez anos depois, Afonso de Albuquerque conquistou Goa, na Índia e pouco depois, em 1511Malaca, na Malásia. Simultaneamente investiu esforços diplomáticos com os mercadores do sudeste asiático, como os chineses, na esperança de que estes fizessem eco das boas relações com os portugueses. Conhecendo as ambições siamesas sobre Malaca, imediatamente enviou Duarte Fernandes em missão diplomática ao Reino do Sião (actual Tailândia), onde foi o primeiro europeu a chegar viajando num junco chinês que retornava à China, estabelecendo relações amigáveis entre os reinos de Portugal e do Sião.[42]
Réplica do navio "Frol de la mar", sede do Museu Marítimo de Malaca, em 2007
Ainda em novembro daquele ano, ao tomar conhecimento da localização secreta das chamadas "ilhas das especiarias", ordenou a partida dos primeiros navios portugueses para o sudeste asiático, comandado pelo seu homens de confiança António de Abreu e por Francisco Serrão, guiados por pilotos malaios. Estes são os primeiros europeus a chegar às Ilhas Banda nas Molucas. A nau de Serrão encalhou próximo a Ceram e o sultão de Ternate, Abu Lais, entrevendo uma oportunidade de aliar-se com uma poderosa nação estrangeira, trouxe os tripulantes para Ternate em 1512. A partir de então os portugueses foram autorizados a erguer uma fortificação-feitoria na ilha, na passagem para o oceano Pacífico: o Forte de São João Baptista de Ternate.
Em maio de 1513, navegando de Malaca (actual Malásia), Jorge Álvares foi o primeiro europeu a atingir o Sul da China. Embora tenha desembarcando na Ilha de Lintin no Delta do Rio das Pérolas, foiRafael Perestrelo - um primo da esposa de Cristóvão Colombo - o primeiro explorador europeu a desembarcar na costa continental chinesa em 1516 e negociar em Cantão (Guangzhou) em 1516, comandando um navio português, com uma tripulação de malaios que havia navegado de Malaca.[43][44] Fernão Pires de Andrade visitou Cantão em 1517 e abriu o comércio com a China. A esta visita seguiu-se o estabelecimento de algumas feitorias portuguesas na província de Cantão, onde se viria a estabelecer o entreposto de Macau em 1557. De acordo com os registos disponíveis, foi o primeiro europeu a alcançar e visitar o território que actualmente é Hong Kong.

[editar]Exploração no Oceano Pacífico

Viagem de Vasco Núñez de Balboaem 1513
Em 1513, a cerca de 40 quilómetros a sul de Acandí, na actual Colômbia, o espanhol Vasco Núñez de Balboa ouviu dos caciques a notícia inesperada de que existiria um "outro" mar rico em ouro, que recebeu com grande interesse. Com poucos recursos e utilizando a informação dos caciques, atravessou o istmo do Panamá[45] com 190 espanhóis, alguns guias nativos e uma matilha de cães. Usando um bergantim e dez pequenas canoas nativas, navegou ao longo da costa até aportar. A 6 de Setembro a expedição foi reforçada com 1.000 homens, travou diversas batalhas, entrou numa densa selva e subiu a serra ao longo do rio Chucunaque de onde esse "outro" mar podia ser visto. Balboa avançou e, na manhã de 25 de Setembro, avistou no horizonte um mar desconhecido, tornando-se o primeiro europeu a ter visto ou alcançado o oceano Pacífico a partir do Novo Mundo. A expedição desceu em direção à praia para uma curta viagem de reconhecimento. Depois de viajar mais de 110 km, Balboa chamou a baía onde chegaram de baía de San Miguel. Nomeou o novo mar "Mar do Sul", pois havia viajado para sul para alcançá-lo. O principal objectivo da expedição fora a busca de ouro e riquezas.Com este fim, cruzou as terras dos caciques até às ilhas, nomeando a maior ilha Rica (hoje conhecida como Ilha do Rei) e o arquipélago Ilhas Pérola, nome que conserva até hoje. Em 1515-1516 Juan Díaz de Solís navegou até ao Río de la Plata, que nomeou, morrendo na tentativa de encontrar uma passagem na América do Sul para o "Mar do Sul" ao serviço de Espanha.
Ao mesmo tempo, no Sudeste Asiático, os portugueses faziam o primeiro relato europeu sobre o Pacífico ocidental, tendo identificado a ilha de Luzon a leste de Bornéu, actuais Filipinas, a cujos habitantes chamaram "luções".[46]

[editar]Primeira Circum-navegação por Fernão de Magalhães (1519-1522)

Mapa da viagem de Fernão de Magalhães à volta do mundo (1519-1522)
A partir de 1516, vários portugueses descontentes com a coroa portuguesa reuniram-se Sevilha, ao serviço do recém coroado Carlos I de Espanha. Entre eles estavam os navegadores Diogo e Duarte BarbosaEstevão GomesJoão SerrãoFernão de Magalhães, os cartógrafos Jorge Reinel[47] e Diogo Ribeiro, os cosmógrafos Francisco e Rui Faleiro e o mercador flamengoCristóvão de Haro.
Fernão de Magalhães, que navegara na Índia ao serviço de D. Manuel I até 1512, quando da chegada às Molucas, e mantinha contacto com Francisco Serrão aí residente,[48][49]desenvolveu a teoria de que as ilhas estariam na zona de influência espanhola de Tordesilhas e que havia uma passagem no Atlântico Sul, sustentado em estudos dos irmãos Faleiro. Ciente dos esforços da coroa espanhola para encontrar uma rota para a Índia navegando para oeste, apresentou o projecto de aí chegar.
A coroa espanhola e Cristovão de Haro financiaram a expedição de Fernão de Magalhães. A 10 de agosto de 1519 partiu de Sevilha a frota de cinco navios - a caravela Trinidad comonavio-almirante sob o comando de Magalhães, e as naus San AntonioConcepciónSantiago e Victoria com uma tripulação de cerca de 237 homens de várias nações, com objetivo era chegar às Ilhas Molucas por ocidente, tentando recuperá-las para a esfera económica e política da Espanha.[50] A frota navegou para sul, evitando o território Português no Brasil, tornando-se a primeira a chegar à Tierra del Fuego, no extremo das Américas.
Victoria, o único navio da frota de Magalhães a ter completado a circumnavegação. Detalhe do mapa "Maris Pacifici", o primeiro dedicado ao Pacífico, Ortelius, 1589).
Em 21 de Outubro, a partir do Cabo Virgenes, começou uma árdua viagem de 600 km através do estreito nomeado então de todos os Santos, actual Estreito de Magalhães. Em 28 de Novembro três navios entraram no Oceano Pacífico - então chamado "Mar Pacífico", devido à sua aparente quietude.[51] A expedição conseguiu atravessar o Pacífico. Magalhães morreu em batalha em Mactan, próximo de Cebu, nas Filipinas, deixando ao espanhol Juan Sebastián Elcano a tarefa de completar a viagem, chegando às Ilhas das Especiarias em 1521. Em 6 de setembro de 1522 a Victoriaregressou a Espanha com apenas dezoito membros da tripulação inicial, completando assim a primeira circum-navegação do mundo. Dos homens que partiram nos cinco navios, apenas 18 completaram a circum-navegação e conseguiram voltar para a Espanha em 1522 com Elcano.[52][53] Dezessete outros regressaram mais tarde: doze, capturados pelos portuguêses em Cabo Verde, entre 1525-1527, e cinco sobreviventes da TrinidadAntonio Pigafetta, um académico veneziano que insistira embarcar e se tornou um fiel assistente de Magalhães, escreveu um diário detalhado que se tornou a principal fonte do que hoje se sabe sobre esta viagem.
Esta viagem à volta do mundo deu à Espanha o conhecimento valioso do mundo e seus oceanos, que mais tarde ajudou na exploração e colonização das Filipinas. Embora esta não fosse uma alternativa viável para concorrer com a rota do Cabo portuguesa em torno da África[54] (o Estreito de Magalhães era muito distante para sul, e o oceano Pacífico demasiado vasto para abranger numa única viagem a partir de Espanha) sucessivas expedições espanholas usaram esta informação para viajar da costa mexicana através de Guam para Manila.

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