Era dos Descobrimentos- Parte 3


As navegações portuguesas para leste e espanholas para oeste cruzam-se (1525-1529)

Vista de Ternate para Tidore, as Ilhas Molucas onde as explorações portuguesas para oriente e espanholas para ocidente acabaram por se cruzar em 1525
Três anos após o regresso da expedição de Magalhães, em 1525, o rei Carlos I de Espanha enviou nova expedição navegando para oeste liderada porGarcía Jofre de Loaísa para ocupar e colonizar as ilhas Molucas, alegando que estas estavam na sua zona do Tratado de Tordesilhas. A frota de sete navios e 450 tripulantes incluia os mais notáveis navegadores espanhóis: Jofre de Loaísa, Juan Sebastián Elcano (que perderiam a vida nesta expedição) e o jovem Andrés de Urdaneta. Frente ao Estreito de Magalhães um dos navios foi empurrado para sul por um vendaval e chegou a 56 ° S, onde pensaram ver "o fim da terra": cruzaram assim pela primeira vez o cabo Horn. A expedição de atingiu com dificuldade as Molucas, ancorando em Tidore. Logo estalou o conflito com os portugueses estabelecidos na vizinha ilha de Ternate desde 1512, iniciando quase uma década de escaramuças.
Como não havia um limite a leste estabelecido pelo Tratado de Tordesilhas ambos os reinos acordaram reunir-se para resolver o problema. De 1524 a 1529 peritos portugueses e espanhóis encontraram-se na junta de Badajoz-Elvas tentando determinar o local exato do antimeridiano de Tordesilhas, que dividiria o mundo em dois hemisférios iguais. Cada coroa nomeou três astrónomos ou cartógrafos, três pilotos e três matemáticos. Lopo Homem participou do lado português[55] e o cartógrafo Diogo Ribeiro na delegação espanhola. O conselho reuniu-se várias vezes, sem chegar a um acordo: o conhecimento na época era insuficiente para o cálculo exacto da longitude, e cada grupo atribuia as ilhas ao seu soberano. A "questão das Molucas" foi resolvida apenas em 1529, após longa negociação, com a assinatura do Tratado de Saragoça, que atribuia as ilhas Molucas a Portugal e as Filipinas a Espanha.
Entre 1525 e 1528 Portugal enviara várias expedições para reconhecer o território em redor das Molucas. Gomes de Sequeira e Diogo da Rocha foram enviados pelo governador de Ternate, Jorge de Meneses, para norte sendo então os primeiros europeus a chegar às Ilhas Carolinas, que nomearam " Ilhas de Sequeira "[56]. Em 1526, Jorge de Meneses ancorara na ilha Waigeo, na Papua-Nova Guiné. Nestas explorações que se baseia a teoria da descoberta da Austrália pelos portugueses, defendida particularmente pelo historiador australiano Kenneth McIntyre[57] Esta teoria afirma que terá sido descoberta por Cristóvão de Mendonça e Gomes de Sequeira, embora não seja universalmente aceites, existindo diversas teorias concorrentes sobre a descoberta da Austrália.
Em 1527 Hernán Cortés equipou uma frota de três navios para encontrar novas terras para a coroa espanhola no "Mar do Sul" (Oceano Pacífico) atribuindo o comando a seu primo Álvaro de Saavedra. Em Outubro Saavedra partiu de Nova Espanha, atravessando o Pacífico e o norte da Nova Guiné. Uma das embarcações chegou chegou às Molucas, mas falhou a sua tentativa de regressar a Nova Espanha um ano depois, empurrado de volta pelosventos alísios. Tentou então o regresso velejando para Sul mas retornou à Nova Guiné. Apontou então a nordeste, onde avistou as Ilhas Marshall e as Ilhas do Almirantado mas foi surpreendido pelos ventos, que o devolveram uma terceira vez às Molucas: a rota espanhola de retorno no Pacífico, do Arquipélago malaio para Acapulco, permaneceu mais de trinta anos por encontrar.

[editar]Exploração interior das Américas: os conquistadores espanhóis

Enquanto os portugueses obtinham enormes ganhos no Oceano Índico, os espanhóis investiram em explorar o interior da América em busca de ouro e recursos valiosos. Os membros destas expedições, os "conquistadores", provinham de uma variedade de origens incluindo artesãos, comerciantes, clero, pequena nobreza e escravos liberados. Geralmente forneciam o seu próprio equipamento em troca de uma participação nos lucros, não tendo ligação directa com o exército real, nem sequer formação ou experiência profissional militar.[58]
Rumores de ilhas desconhecidas a noroeste de Hispaniola haviam chegado a Espanha em 1511. O rei Fernando II de Aragão estava interessado em prosseguir as explorações e, em 1512, como recompensa a Ponce de León por explorar Porto Rico desafiou-o a procurar estas novas terras: tornar-se-ia governador das terras descobertas, mas teria de financiar toda a exploração.[59] Com três navios e cerca de 200 homens, Léon partiu de Porto Rico em Março de 1513. Em Abril avistaram terra nomeando-a La Florida acreditando ser uma ilha, pela paisagem verdejante e porque era Páscoa (dita em Espanha a Florida), tornando-se creditado como o primeiro europeu a desembarcar no continente nas costas Norte Americanas. O local de chegada é disputado entre St. Augustine, Ponce de León Inlet e Melbourne Beach. Navegaram para o sul e a 8 de Abril encontraram uma corrente tão forte que os fez recuar: foi o primeiro encontro com a Corrente do Golfo, que viria a tornar-se a principal rota para os navios que deixavam as "Índias" espanholas com destino à Europa.[60] Exploraram ao longo da costa atingindo Biscayne Bay, Dry Tortugas e numa tentativa de circundar Cuba para retornar, atingiram a Grand Bahama.

[editar]Cortés: exploração do México e conquista do Império Asteca (1519-1521)

Rota de Hernán Cortés no interior, 1519-1521
Em 1517, o governador de Cuba Diego Velázquez de Cuéllar ordenou a uma frota para explorar a Península do Iucatão. Atingiram a costa onde Maias os convidaram a aportar, mas foram atacados durante a noite e apenas um resquício da tripulação voltou. Velázquez enviou então outra expedição liderada por seu sobrinho Juan de Grijalva, que navegou ao longo da costa para sul até Tabasco, território asteca. Em 1518 Velázquez atribuiu ao prefeito da capital de Cuba, Hernán Cortés, o comando de uma expedição para segurar o interior do México mas, devido a uma antiga disputa entre ambos, revogou o alvará.
Em Fevereiro de 1519 Cortés avançou ainda assim, num acto de rebelião aberta. Com cerca de 11 navios, 500 homens, 13 cavalos e um pequeno número de canhões que chegou aoIucatão, em território Maia, [66] reivindicando-o para a coroa espanhola. De Trinidad avançou para Tabasco e venceu uma batalha contra os nativos. Entre os vencidos estava La Malinche, sua futura amante, que conhecia as línguas náuatle (asteca) e Maia, tornando-se uma valiosa intérprete e conselheira. Através dela Cortés soube do rico Império Asteca.
Em Julho os seus homens tomaram Veracruz e Cortés colocou-se sob as ordens directas do novo rei Carlos I de Espanha[61]. Aí Cortés pediu uma audiência com o imperador astecaMontezuma II, que foi repetidamente recusada. Seguiram então para Tenochtitlán e no caminho estabeleceram alianças com diversas tribos. Em Outubro, acompanhados por cerca de 3.000 tlaxcaltecas marcharam para Cholula, a segunda maior cidade da região central do México. Para instilar o medo nos astecas que os aguardavam ou (como Cortés afirmaria mais tarde) por preterem dar um exemplo, ao temer a traição nativa, massacraram milhares de membros desarmados da nobreza reunidos na praça central e parcialmente queimaram a cidade.
Mapa da cidade-ilha Tenochtitlán e dogolfo do México feito por um membro da expedição de Cortés, 1524, Newberry Library, Chicago
Chegando a Tenochtitlan com um grande exército, a 8 de Novembro foram pacificamente recebidos por Montezuma, que deliberadamente deixou Cortés entrar no coração do império asteca, na esperança de conhecê-los melhor para esmagá-lo mais tarde.[62] O imperador presenteou-os pródigamente com ouro, que os seduziu a saquear grande quantidade. Nas suas cartas a Carlos I, Cortés afirmou ter sabido que era considerado pelos astecas um emissário da divindade Quetzalcóatl (serpente emplumada) ou a própria divindade- uma opinião contestada por alguns historiadores modernos.[63] Mas logo souibe que os seus homens na costa tinha sido atacados, e decidiu tornar Moctezuma refém no seu palácio, solicitando-lhe a jurar fidelidade a Carlos I.
O governador Velasquez enviara outra expedição, conduzida por Pánfilo de Narváez, para se opor a Cortés, chegando ao México em Abril de 1520 com 1.100 homens. Cortés deixou Tenochtitlán com 200 homens e seguiu para enfrentar Narvaez, que venceu, convencendo seus homens a acompanhá-lo. Em Tenochtitlán um dos tenentes de Cortés cometeu um massacre no templo principal, desencadeando a revolta. Cortés voltou rapidamente e propôs um armistício, procurando o apoio de Moctezuma, mas o imperador asteca foi apedrejado até à morte pelos seus próprios súbditos. Cortés fugiu durante a chamada Noite Triste, escapando por um triz enquanto a rectaguarda era massacrada. Grande parte do saque perdeu-se durante essa fuga em pânico. Depois de uma batalha em Otumba chegaram Tlaxcala, tendo perdido 870 homens. Prevalendo com o apoio de aliados e reforços de Cuba, Cortés sitiou Tenochtitlán e capturou seu governante Cuauhtémoc em 1521. À medida que o Império Asteca terminava reivindicou a cidade para a Espanha, renomeando-a Cidade do México.

[editar]Pizarro: exploração do Peru e da conquista do Império Inca (1524-1532)

Rota de Francisco Pizarro na exploração e conquista do Peru (1531–1533)
A primeira tentativa de explorar a costa oeste da América do Sul foi feita em 1522 por Pascual de Andagoya, tendo chegado a Rio San Juan (Colômbia), onde populações locais lhe descreveram um território rico em ouro junto a um rio chamado "Pirú". Andagoya adoeceu e regressou ao Panamá, onde espalhou a notícia sobre o "Pirú" como o lendário El Dorado. Este relato, juntamente com o sucesso de Cortés, chamaram a atenção de Pizarro.
Francisco Pizarro tinha acompanhado Balboa na travessia do istmo do Panamá. Em 1524 formou uma parceria com o padre Hernando de Luque e o soldado Diego de Almagro para explorar o sul e dividir os lucros, apelidando a iniciativa "Empresa del Levante". Pizarro comandava, Almagro proporcionava apoio militar e alimentos, Luque seria responsável pelas finanças e outras disposições.
Em Setembro partiu a primeira de três expedições à conquista do Peru com cerca de 80 homens e 40 cavalos. A expedição foi um fracasso chegando à Colômbia onde sucumbiram ao mau tempo, fome e conflitos com habitantes locais hostis. Os nomes de locais conferidos ao longo da rota - Puerto Deseado (porto desejado), Puerto del hambre (porto da fome) e Puerto quemado (porto queimado)- testemunham essas dificuldades. Dois anos depois, seguiu uma segunda expedição com cerca de 160 homens, com a autorização relutante do governador do Panamá. Ao chegar do Rio San Juan separaram-se: Pizarro ficou a explorar as costas pantanosas e Almagro buscou reforços. O piloto de Pizarro navegou para sul além do Equador, onde capturou um barco de Tumbes. Para sua surpresa transportava têxteis, cerâmica e o muito desejado ouro, prata e esmeraldas, tornando-se o foco da expedição. Depois de uma viagem difícil, enfrentando ventos e correntes, atingiram Atacames onde encontraram uma grande população sob domínio Inca, mas de aspecto tão agressivo que não aportaram.
Decidiram que Pizarro ficaria abrigado perto da costa, enquanto Almagro e Luque voltavam ao Panamá para buscar mais reforços com o ouro encontrado como prova. O novo governador rejeitou uma terceira expedição e mandou dois navios trazer todos de volta. Quando chegaram a Isla de Gallo, Pizarro traçou uma linha na areia, dizendo: "Ali está o Peru com suas riquezas; Aqui, o Panamá e sua pobreza. Escolha, cada homem, o que melhor o torna um castelhano corajoso." Treze decidiram ficar tornando-se conhecidos como "los trece de la Fama" (os treze famosos). Construíram um barco avançando até La Isla Gorgona, onde permaneceram sete meses até à chegada de provisões.
No Panamá, o governador concordou com um navio para trazer de volta Pizarro e abandonar completamente a expedição. Almagro e Luque aproveitaram a oportunidade para se juntar Pizarro. Navegaram para sul e, em Abril de 1528, atingiram o noroeste do Peru na região de Tumbes, onde foram recebidos calorosamente pelos Túmpis. Dois dos homens de Pizarro relataram riquezas incríveis, incluindo decorações a ouro e a prata na casa do chefe. Viram pela primeira vez Lhamas a que Pizarro chamou "pequenos camelos". As populações chamaram aos espanhóis "Filhos do Sol" pela sua pele clara e armaduras brilhantes. Decidiram então regressar ao Panamá para preparar uma expedição final. Antes navegaram para o sul através de territórios por eles nomeados, como Cabo Blanco, porta de Payta, Sechura, Punta de Aguja, Santa Cruz, e Trujillo, atingindo pela primeira vez 9ºsul.
Na primavera de 1528, Pizarro partiu para Espanha, onde teve uma audiência com o rei Carlos I que, ao ouvir sobre as suas expedições em terras descritas como muito ricas em ouro e prata e prometeu apoiá-los. Pizarro convenceu então muitos amigos e parentes a participar: seus irmãos Hernando, Juan e Gonzalo Pizarro e também Francisco de Orellana, que viria a explorar o rio Amazonas, assim como seu primo Pedro Pizarro. Quando a expedição partiu no ano seguinte levava três navios, cento e oitenta homens e 27 cavalos.
Desembarcaram perto do Equador e após lutar com os Punian, navegaram para Tumbes, encontrando o local destruído. Avançaram no interior onde estabeleceram o primeiro assentamento espanhol no Peru, San Miguel de Piura. Um dos homens voltou com um enviado Inca e um convite para um encontro. Os Incas estavam em guerra civil e Atahualpa descansava no norte do Peru perto de Cajamarca, após derrotar o seu irmão Huascar. Caminharam dois meses até Atahualpa. Este, porém, recusou a presença espanhola, dizendo que não "seria tributário de ninguém." Havia menos de 200 espanhóis a 80.000 soldados incas, mas Pizarro atacou o exército inca na Batalha de Cajamarca. Os espanhóis foram vitoriosos e prenderam Atahualpa na chamada sala de resgate. Apesar de cumprir sua promessa de encher uma sala com ouro e duas de prata, foi condenado pelo assassinato de seu irmão e conspirar contra Pizarro, e foi executado.
Em 1533, Pizarro invadiu Cuzco com tropas locais e escreveu ao rei Carlos I: "Esta cidade é a maior e mais bela já vista neste país ou em qualquer lugar nas Índias ... tem belos edifícios que seriam notáveis, mesmo em Espanha. " Depois de selar a selado a conquista do Peru, Jauja no Vale de Mantaro foi criada como capital provisóriado Peru em 1534. Mas por ser muito distante do mar, nas montanhas Pizarro fundou a cidade de Lima em 1535, o que considerou um dos atos mais importantes da sua vida.

[editar]Chegada ao Japão e as novas rotas comerciais (1542-1565)

Rotas comerciais portuguesas atéNagasaki e a rota rival espanhola, o chamado galeão de Manila, iniciada em 1565 (branco)
Em 1543, acidentalmente, três mercadores portugueses Francisco ZeimotoAntónio Mota e António Peixoto foram os primeiros ocidentais a atingir o Japão e aí negociar. Segundo Fernão Mendes Pinto, que afirmou ter participado nesta viagem, terão aportado a Tanegashima em 23 de setembro, tendo sido este primeiro contacto directo europeus com o Japão. Segundo este, espantaram os autóctones não só com o relato de terras e costumes estranhos como com a novidade das armas de fogo, os arcabuzes que seriam imediatamente fabricadas pelos japoneses em grande escala.[64]
A rota leste das Filipinas foi navegada pela primeira vez por Álvaro de Saavedra em 1527. O percurso de regresso foi mais difícil de encontrar.[65] em 1565. A conquista espanhola dasFilipinas foi ordenada por Filipe II de Espanha. Por fim, os espanhóis estabeleceram uma presença no Pacífico com a expedição de Miguel López de Legazpi, que partiu de AcapulcoNova Espanha em 1565.
Carraca portuguesa em Nagasaki, pintura Nanban atribuída a Kano Naizen (1570-1616)
Andrés de Urdaneta fora o comandante designado, mas embora tenha acordado acompanhar a expedição, recusou o comando e Legazpi foi nomeado em seu lugar. A expedição partiu em Novembro de 1564. Depois de passar algum tempo nas ilhas, Legazpi enviou Urdaneta de volta para encontrar uma melhor rota de retorno. Urdaneta partiu de San Miguel, na ilha de Cebu em Junho de 1565, mas foi obrigado a navegar para norte até à latitude 38 graus norte até obter os ventos favoráveis.
Urdaneta calculou que os ventos Alísios do Pacífico, podiam se mover em giro como os ventos no Atlântico. Se no Atlântico os navios faziam a chamada "volta do mar" para apanhar os ventos que os trariam de volta a partir de Madeira, então, pensou, navegando mais para norte, rumo ao leste, iria apanhar ventos alísios capazes de trazê-lo de volta para a América do Norte. Seu palpite compensou, e ele atingiu a costa perto do Cabo Mendocino, na Califórnia, seguido a costa para sul. O navio chegou ao porto de Acapulco, em 8 de outubro de 1565, tendo percorrido 12.000 milhas (20.000 km) em 130 dias. Quatorze tripulantes morreram; apenas Urdaneta e Felipe de Salcedo, sobrinho de López de Legazpi, tiveram força suficiente para lançar as âncoras.
Assim se estabeleceu uma rota no Pacífico entre o México e as Filipinas. Durante muito tempo essas rotas eram utilizadas pelos galeões de Manila, criando assim um vínculo comercial unindo a China, as Américas e a Europa através de rotas trans-Pacífico e trans-Atlânticas.

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