Era dos Descobrimentos- Parte 4


Participação dos norte-europeus (1595-anos 1600)

As nações europeias fora da península Ibérica recusavam-se a reconhecer o Tratado de TordesilhasFrançaHolanda e Inglaterra possuíam uma longa tradição marítima e, apesar do secretismo e rotecções, as novas tecnologias e mapas logo chegaram ao norte. Em 1568, os holandeses rebelaram-se contra o governo de Filipe II de Espanha desencadeando a Guerra dos Oitenta Anos. A guerra entre aInglaterra e a Espanha também estourou. Em 1580, Filipe II tornou-se rei de Portugal, como legítimo herdeiro da coroa após uma crise sucessória. Os impérios combinados eram demasiado grandes para passar sem ser desafiados pelos rivais europeus.
Os exércitos de Filipe II conquistaram as importantes cidades comerciais de Bruges e GanteAntuérpia, então o porto mais importante do mundo, caiu em 1585. À população protestante foram dados dois anos para resolver os seus assuntos e abandonar a cidade.[66] Muitos estabeleceram-se em Amesterdão. Eram maioritariamente artesãos, ricos comerciantes das cidades portuárias e os refugiados das perseguições religiosas, especialmente judeussefarditas fugidos de Portugal e de Espanha e, mais tarde, os huguenotes da França. Os Peregrinos calvinistas também passaram um tempo aí antes de partirem para o Novo Mundo. Esta imigração em massa foi uma força motriz importante: um pequeno porto em 1585, Amsterdão transformou-se rapidamente num dos centros comerciais mais importantes do mundo. Depois da derrota da Invencível Armada Espanhola em 1588, houve uma enorme expansão do comércio marítimo.
A emergência do poder marítimo holandês foi rápida e impressionante: marinheiros holandeses tinham participado nas viagens portuguesas para oriente, como navegadores capazes e cartógrafos notáveis. Em 1592Cornelis de Houtman foi enviado por mercadores holandeses para Lisboa, para reunir o máximo de informação possível sobre as "Ilhas das Especiarias". Em 1595, o comerciante e explorador Jan Huygen van Linschoten, tendo viajado no Oceano Índico ao serviço dos portugueses, publicou um relatório de viagem em Amsterdão, o "Reys-gheschrift vande Portugaloysers der navigatien em Orienten" ( "Relatório de uma viagem através das navegações do Portugueses no Oriente ").[67] Isto incluía vastas indicações sobre como navegar entre Portugal, as Índias Orientais e o Japão. Naquele mesmo ano Houtman seguiu esta direções na primeira viagem exploratória holandesa que descobriu uma nova rota marítima, velejando directamente de Madagáscar para Estreito de Sunda, na Indonésia e assinando um tratado com o sultão Banten.
Portugal concentrara-se principalmente nas áreas costeiras e ao longo do tempo revelou-se incapaz de fornecer os fundos e recursos humanos capazes de gerir e defender uma enorme e dispersa área, não conseguindo competir com as grandes potências que, lentamente, invadiram a sua esfera de comércio. Os dias do quase monopólio do comércio no Oriente estavam contados. Os exploradores holandeses, franceses e ingleses ignoraram a divisão papal do mundo e durante o século XVII estabeleceram postos de comércio cada vez mais a leste, à custa de Portugal.

[editar]Explorações costeiras da América do Norte (1524-1611)

Mapa das viagens de Henry Hudsonentre 1609-1611 à América do Norte ao serviço da Companhia das Índias Orientais Holandesas (VOC)
A primeira expedição norte europeia (1497) foi inglesa, liderada pelo italiano John Cabot (Giovanni Caboto). Foi a primeira de uma série de missões francesas e inglesas a explorarAmérica do Norte. Espanha dedicara esforços limitados a explorar a parte norte das Américas, com os recursos totalmente tomados pelos seus esforços na América Central e do Sul, onde mais riqueza havia sido encontrada. As expedições de Cabot, Jacques Cartier (primeira viagem de 1534) e outros seguiam na esperança de encontrar uma passagem noroesteoceânica para chegar ao comércio asiático. Esta nunca foi descoberta, mas, nestas viagens, outras possibilidades foram encontrados e, no início do século XVII colonos de vários estados norte europeus começaram a estabelecer-se na costa leste da América do Norte.
Em 1524, Giovanni da Verrazzano, um italiano ao serviço do rei Francisco I da França, foi o primeiro europeu documentado a visitar a costa atlântica dos atuais Estados Unidos. No mesmo ano, Estevão Gomes, um cartógrafo português que havia navegado na frota de Fernão de Magalhães ao serviço de Espanha, explorou a Nova Escócia navegando para Sul atá ao Maine, onde entrou no porto de Nova York, o rio Hudson e, finalmente, chegou à Flórida em agosto de 1525. Como resultado da sua expedição, mapa mundo de Diego Ribero de 1529mostra os contornos da costa leste da América do Norte quase perfeitamente.
Os europeus exploraram a costa do Pacífico desde meados do século XVIFrancisco de Ulloa explorou a costa do Pacífico do atual México, incluindo o Golfo da Califórnia, provando que a Baja Califórnia era uma península, mas, apesar de suas descobertas, o mito persistiu na Europa de que a Califórnia era uma ilha. João Rodrigues Cabrilho, outro navegador português para a Coroa espanhola, foi o primeiro europeu a aportar na Califórnia, desembarcando em 28 de setembro de 1542, na Baía de San Diego reclamando a Califórnia para a Espanha.[68]Desembarcou também em San Miguel, uma das Ilhas do Canal, e continuou, até PT. Reyes. Após sua morte, a sua tripulação continuou a explorar para o norte até Oregon.
O inglês Francis Drake navegou ao longo da costa em 1579 algures a norte do local de desembarque de Cabrilho - a localização real do desembarque de Drake era secreta e ainda é indeterminada - e reivindicou a terra para a Inglaterra, chamando-a de Nova Albion. O termo "Nova Albion" foi, por isso, usado em muitos mapas europeus para designar os territórios a norte dos assentamentos espanhóis.
Entre 1609-1611, o inglês Henry Hudson, após várias viagens em nome de comerciantes ingleses para explorar uma Passagem Nordeste para Índia, explorou a região em torno da actual cidade de Nova York, procurando uma rota ocidental para a Ásia para a VOC, a Companhia Holandesa das Índias Orientais. Explorou o Rio Hudson e lançou as bases para a colonização holandesa da região. A última expedição de Hudson chegou mais ao norte em busca da Passagem Noroeste, levando à descoberta do Estreito de Hudson e Baía de Hudson. Depois de invernar na baía de James, Hudson tentou avançar na primavera de 1611, mas seus tripulantes amotinaram-se e abandonaram-no.[69]

[editar]Barents e a busca de uma rota no Norte (1525-1611)

Mapa da terceira exploração do Árcticopor Willem Barents, 1599
França, Holanda e Inglaterra haviam ficado sem uma rota comercial para a Ásia, pois África estava dominada pelos portugueses e a América do Sul pelos espanhóis. Quando se tornou evidente que não havia nenhuma passagem através do continente americano, as atenções voltaram-se para a possibilidade de uma passagem pelas águas do norte, a que os ingleses chamavam a Passagem do Noroeste, procurada desde a viagem de John Cabot. O desejo de estabelecer uma rota motivou a exploração europeia, tanto nas costas da América do Norte como na Rússia. Na Rússia, a idéia de um possível caminho marítimo que ligasse o Atlântico ao Pacífico foi apresentado pela primeira vez pelo diplomata Dmitry Gerasimov, em 1525.
Em 1553 os exploradores ingleses Hugh Willoughby e Richard Chancellor foram enviados de Londres pela "Company of Merchant Adventurers to New Lands" com três navios em busca de uma passagem. Na viagem através do Mar de Barents, Willoughby pensou ter avistado ilhas ao norte, que foram representadas em mapas até 1640. [74] Separados por "vendavais terríveis" na no Mar da Noruega, Willoughby e a sua tripulação morreram numa baía perto da atual fronteira entre a Finlândia e Rússia. Chancellor conseguiu ancorar no mar Branco e caminhar até Moscovo, onde foi recebido na corte de Ivan, o Terrível, abrindo o comércio com a Rússia e transformando a companhia de aventureiros mercantis na Companhia de Moscóvia em 1555.
Em Junho de 1594, o cartógrafo holandês Willem Barents partiu numa frota de três navios para o mar de Kara, na esperança de encontrar a passagem do Nordeste acima da Sibéria. Encontraram pela primeira vez um urso polar, que tentaram capturar e levar a bordo sem sucesso. Atingiram a costa oeste da Nova Zembla, e seguiram para norte, antes de serem forçados a voltar face aos grandes icebergs.
No ano seguinte, o príncipe Maurício de Orange nomeou Barents como piloto de uma nova expedição de seis navios, carregados com mercadorias holandesas para o esperado comércio com a China. Ao descobrir o Mar de Kara congelado acabou por que regressar. Em 1596, os estado holandês instituiu uma recompensa a quem navegasse com sucesso a Passagem Nordeste. A cidade de Amsterdão comprou e equipou dois pequenos navios, sob o comando de Barents. Partiram em Maio e chegaram a Bear Island e Spitsbergen, avistando a costa noroeste. Encontraram uma grande baía, a que deram o nome de Tusk Bay, mas foram obrigados a voltar. Em 28 de Junho, contornaram a ponta norte da Prins Karls Forland e navegaram para sul.
Tripulante da expedição de Willem Barents enfrentando um urso polar
Retornaram a Bear Island, onde se separaram, continuando Barents para nordeste e o piloto Rijp rumo ao norte. Barents atingiu Nova Zembla, e, para evitar ficar preso no gelo, dirigiu-se para o Estreito Vaigatch onde ficou preso e a tripulação de 16 homens foi forçada a passar o inverno. Enfrentando um frio extremo, usaram madeira do navio para construir um abrigo, e os tecidos que transportavam para fazer roupas, caçaram raposas do ártico e ursos polares em armadilhas primitivas. Junho chegou, mas o gelo ainda não havia afrouxado sobre o navio. Os sobreviventes, atacados de escorbuto, partiram em dois botes em direção ao mar. Barents morreu no mar em 20 de Junho de 1597, enquanto estudava os seus mapas. Só passadas sete semanas os barcos chegarem a Kola, onde foram resgatados por um navio mercante russo. Apenas 12 tripulantes sobreviveram, atingindo Amesterdão em Novembro. Dois dos companheiros de Barents publicaram os seus relatos: Jan Huygen van Linschoten, que o acompanhara nas duas primeiras viagens, e Gerrit de Veer, carpinteiro do navio.
Em 1608, Henry Hudson fez uma segunda tentativa, tentando cruzar o topo norte da Rússia: chegou a Nova Zembla, mas foi forçado a regressar. Entre 1609-1611, depois de várias viagens em nome de comerciantes de ingleses para explorar um potencial Rota do Mar do Norte para a Índia, explorou a região em torno da actual Nova York enquanto procurava uma rota ocidental para a Ásia, sob os auspícios da Companhia Holandesa das Índias Orientais (VOC).

[editar]Chegada dos holandeses à Austrália e à Nova Zelândia (1606-1644)

As viagens de Abel Tasman's em 1642 e 1644 na Nova Holanda (actual Austrália) ao serviço da VOC (a Companhia Holandesa das Índias Orientais)
Terra Australis Incognita ("terra desconhecida do sul" em latim) era um continente hipotético que surgia representado nos mapas europeus, com raízes num conceito introduzido inicialmente por Aristóteles. Pode ver-se nos mapas de Dieppe do século XVI e de Abraham Ortelius, a sul das Índias Orientais, com o litoral elaborado e uma grande riqueza de detalhes fictícios. Os descobrimentos reduziram a área em que o continente poderia ser encontrado, no entanto, muitos cartógrafos mantinham a opinião de Aristóteles. Gerardus Mercator (1569) e Alexander Dalrymple defenderam a sua existência até 1767,[70] argumentando que deveria haver uma massa de terra grande no sul como contraponto para as massas de terra conhecidas no Hemisfério Norte. À medida que novas terras eram descobertas, eram muitas vezes assumidas como sendo partes deste continente hipotético.
Juan Fernández, navegando do Chile em 1576, reclamou ter descoberto o continente do Sul.[71] Luís Vaz de Torres, um navegador português ao serviço da coroa espanhola, provou a existência de uma passagem ao sul da Nova Guiné que hoje é conhecida como o Estreito de TorresPedro Fernandes de Queirós,outro navegador português para a coroa espanhola, viu uma grande ilha sul da Nova Guiné em 1606, a que deu o nome de "La Austrália del Espiritu Santo" que apresentou ao rei de Espanha como a Terra Australis incognita.
Réplica do Duyfken, Swan River, Australia
O navegador holandês e governador colonial, Willem Janszoon foi o primeiro europeu reconhecido como tendo visto a costa da Austrália. Janszoon partira da Holanda para as Índias Orientais pela terceira vez em 18 de dezembro de 1603, como capitão do Duyfken (ou Duijfken, que significa "pequena pomba"), um de doze navios da frota de Steven van der Hagen. Uma vez na Índia, Janszoon foi enviado para procurar outros entrepostos de comércio, particularmente na "grande terra da Nova Guiné e outras Terras a este e a sul." Em 18 de novembro de 1605, o Duyfken partiu de Bantam para a costa oeste Nova Guiné. Janszoon então cruzou a extremidade oriental do Mar de Arafura, sem ver o Estreito de Torres, no Golfo de Carpentária. Em 26 de fevereiro de 1606, desembarcou no Rio Pennefather na costa oeste do Cabo York, em Queensland, perto da actual cidade deWeipa. Este foi o primeiro desembarque europeu registado no continente australiano. Janszoon procedeu ao mapeamento de cerca de 320 km de costa, do que ele pensava ser uma extensão do sul da Nova Guiné. Em 1615Jacob Le Maire e Willem Schouten contornaram o Cabo Horn provando que a Tierra del Fuego era uma ilha relativamente pequena.
Em 1642 e 1644 Abel Tasman, também um explorador holandês e comerciante ao serviço da VOC, a Companhia Holandesa das Índias Orientais, circum-navegou a então chamada Nova Holanda, provando que a Austrália não fazia parte do mítico continente do sul. Tasman foi o primeiro europeu conhecido a chegar à Terra de Van Diemen (actual Tasmânia) e à Nova Zelândia e avistar as ilhas Fiji, em 1643. Tasman, o seu navegador Visscher, e o seu comerciante Gilsemans mapearam partes substanciais da Austrália, Nova Zelândia e ilhas do Pacífico.

[editar]Impacto global da era dos descobrimentos

Plantas nativas do Novo Mundo. No sentido horário, do topo à esquerda:: 1.Milho (Zea mays) 2. Tomate (Solanum lycopersicum) 3. Batata (Solanum tuberosum) 4. Baunilha 5. Seringueira(Borracha -Hevea brasiliensis) 6. Cacau(Theobroma cacao) 7. Tabaco (Nicotiana rustica)
Impérios coloniais europeus desde 1492
A expansão ultramarina europeia desencadeou o intenso contacto entre o Velho Mundo e o Novo Mundo nomeado intercâmbio colombiano[72]. Este fenómeno envolveu a transferência de produtos até então exclusivos de cada hemisfério, como gadocavalosalgodão e cana-de-açúcar da Europa para o Novo Mundo, ou tabacobatatacacau e milho, trazidos do Novo para o Velho Mundo. Entre os produtos que moveram o comércio global destacam-se a cana-de-açúcar e o algodão que foram cultivados intensamente nas Américas, e o ouro e prata trazidos das Américas que moveram não só a economia da Europa, mas de outras partes do mundo como o Japão e a China.
As novas ligações trans-oceânicas e o seu domínio pelas potências europeias originaram os impérios coloniais europeus, que vieram a controlar grande parte do planeta. O apetite europeu por comércio, produtos, impérios e escravos afectou muitas regiões do mundo. Espanha participou na destruição de culturas agressivas na América. O padrão de agressão territorial foi repetido noutros territórios. Novas religiões imposeram-se a rituais "pagãos", assim como línguas, culturas políticas e, em algumas áreas como a América do Norte, Austrália, Nova Zelândia e Argentina, povos indígenas foram afastados de suas terras ou reduzidos a minorias. Vulneráveis a doenças infecciosas euroasiáticas a que nunca haviam sido expostos, muitos pereceram com doenças transmitidas pelos Europeus, que nalguns casos dizimaram 50-90% de algumas populações.
milho e a mandioca, introduzidos no século XVI pelo portugueses,[73] prosperaram em África, tornando-se importantes alimento básicos no continente africano.[74] Alfred W. Crosby especulou que o aumento da produção de milho, mandioca e outras culturas americanas, ao permitir o povoamento de zonas de floresta húmida, alimentou por sua vez o comércio de escravos. Nas zonas costeiras de África, as populações locais ao participar no tráfico europeu de escravos, mudaram a face de estados costeiros africanos e alteraram a natureza daescravidão africana, causando impactos nas sociedades e economias do interior. O tráfico de escravos para trabalhar no cultivo modificou populações de diversos territórios como o Brasil, África e América do Norte.
Durante o século XVI, a economia chinesa sob a dinastia Ming foi estimulada pelo comércio com portugueses, espanhóis e holandeses, envolvendo-se no comércio mundial de mercadorias, plantas, animais e culturas alimentares. O comércio com europeus e japoneses trouxe grandes quantidades de prata, que substituiu o cobre e o papel-moeda como meio de pagamento na China. Nas últimas décadas da dinastia Ming, o fluxo de prata diminuiu muito, comprometendo as receitas estatais e, assim toda a economia. Esse dano foi agravado pelos efeitos sobre a agricultura da Pequena Idade do Gelo, calamidades naturais, más colheitas e epidemias frequentes. A resultante quebra da autoridade permitiu que líderes rebeldes comoLi Zicheng desafiassem a autoridade Ming.
Portugueses Nanbanjinchegando ao Japão, para surpresa dos habitantes, detalhe de painel Nanban por Kano Domi, 1593-1600
Novas culturas vindas das Américas contribuíram para o crescimento da população asiática[75]. Embora a principal importação chinesa fosse a prata, os chineses importaram também culturas do Novo Mundo através do Império Espanhol. Estas incluiam a batata doce, milho e amendoim, que podiam ser cultivados em terras onde as culturas base tradicionais de trigopainço e arroz não conseguiam crescer, facilitando o aumento na população da China.[76] Na dinastia Song (960-1279), o arroz tornara-se a principal plantação de subsistência,[77] mas desde que a batata doce foi introduzida na China, por volta de 1560, tornou-se gradualmente a comida tradicional das classes mais humildes.[78]
A chegada dos portugueses ao Japão em 1543 iniciou o período Nanban, com os japoneses a adoptar e fabricar em grande escala várias tecnologias e práticas culturais, como o arcabuz,armaduras, os navios europeus, o cristianismo, as artes decorativas e linguagem. Quando os chineses proibiram o comércio directo com o Japão, os portugueses preencheram esta lacuna comercial tornando-se intermediários entre a China eo Japão.[79] Os portugueses compravam seda chinesa que vendiam aos japoneses, em troca de prata japonesa. Como a prata estava mais valorizada na China, utilizavam-na para comprar grandes carregamentos de seda chinesa.[79] No entanto, a partir de 1573, com o estabelecimento da base comercial espanhola em Manila, este comércio português de prata na China diminuiu, substituído entrada na China da prata vinda da América espanhola.[80][81]
O jesuíta italiano Matteo Ricci (1552-1610), foi o primeiro europeu autorizado entrar na Cidade Proibida, ensinando os chineses como construir e tocar espineta, traduzindo textos do chinês para o latim e vice-versa, e trabalhando estreitamente com o seu associado chinês Xu Guangqi ( 1562-1633) na matemática.

[editar]Impacto económico e cultural da era dos descobrimentos na Europa

Mapa múndi das Tabelas Rodolfinas deJohannes Kepler (1627), incorporando muitas das novas descobertas.
Com a maior variedade de produtos de luxo a entrarem no mercado europeu por via marítima, os anteriores mercados europeus de bens de luxo estagnaram. O comércio do Atlântico suplantou largamente as anteriores potências comerciais italianas (repúblicas marítimas) e alemãs (Liga Hanseática), que baseavam as suas relações comerciais no Báltico, com russos e muçulmanos. Os novos produtos causaram também mudanças sociais, à medida que açúcarespeciariassedas e porcelanas entraram no mercado de luxo da Europa.
O centro da economia europeia deslocou-se do Mediterrâneo para a Europa Ocidental. A cidade de Antuérpia, parte do Ducado de Brabante, tornou-se "o centro de toda a economia internacional [82], e a cidade mais rica da Europa.[83] Centrado em Antuérpia e depois em Amsterdão, o "Século de Ouro dos Países Baixos" esteve fortemente ligado à era dos descobrimentos. Francesco Guicciardini, um emissário veneziano, afirmou que centenas de navios passavam por Antuérpia diariamente, e 2.000 carruagens entravam na cidade a cada semana. Navios portugueses carregados de pimenta e canela desembarcavam aí a sua carga. Com muitos comerciantes residentes na cidade, e governada por uma oligarquia de aristocratas-banqueiros proibidos de participar no comércio, a economia de Antuérpia era controlada por estrangeiros, o que tornou a cidade muito cosmopolita, com mercadores e comerciantes de Veneza, Ragusa, Espanha e de Portugal e uma política de tolerância que atraiu uma grande comunidade judaica. A cidade experimentou três picos durante a sua idade de ouro, o primeiro baseado no mercado de pimenta, um segundo desencadeado pela prata americana vinda através de Sevilha (que terminou com a falência de Espanha em 1557), e um terceiro, após a paz de Cateau-Cambrésis, em 1559, com base na indústria têxtil.
Apesar das hostilidades iniciais, a partir de 1549 os portugueses enviavam missões comerciais anuais para Sanchoão, na China.[84] Em 1557 conseguiram convencer a corte Ming a chegar a um tratado comercial que estabeleciaMacau como uma base comercial oficial Portuguesa.[84] Em 1569 o português Frei Gaspar da Cruz publicou o "Tratado das cousas da China", primeira obra completa sobre a China e a Dinastia Ming publicada na Europa desde Marco Pólo, que incluia informações sobre a geografia, províncias, realeza, funcionários, burocracia, transportes, arquitetura, agricultura, artesanato, assuntos comerciais, de vestuário, costumes religiosos e sociais, música e instrumentos, escrita, educação e justiça.[85] influenciando a imagem que os europeus tinham da China.
Porcelana de Delft com motivos chineses, século XVIII. Museu Ernest Cognacq
As principais importações vindas da China eram sedas e porcelanas, adaptadas aos gostos europeus. As porcelanas chinesas eram tão apreciadas na Europa que, em Inglês, "china" tornou-se sinónimo de "porcelana". A chamada porcelana kraak (cujo nome terá origem nas "carracas" portuguesas em que era transportada) estava entre as primeiras cerâmicas chinesas a chegar à Europa em quantidades maciças. Apenas os mais ricos podiam pagar estas primeiras importações, que foram frequentemente representadas nas naturezas mortas holandesas.[86] Depressa a Companhia Holandesa das Índias Orientais estabeleceu um dinâmico comércio com o Oriente, tendo importado 6 milhões de items de porcelana da China para a Europa entre os anos de 1602 para 1682.[87][88] A mestria chinesa impressionou muitos. Entre 1575 e 1587, a porcelana Médici de Florença foi a primeira tentativa bem sucedida para imitar a porcelana chinesa. Apesar dos ceramistas holandeses não terem copiado imediatamente a porcelana chinesa, começaram a fazê-lo quando o abastecimento para a Europa foi interrompido, após a morte do Imperador Wanli em 1620. A porcelana Kraak, principalmente a azul e branca, foi imitada em todo o mundo, primeiro pelos oleiros em Arita, Japão e Pérsia - para onde os comerciantes holandeses se viraram quando a queda da dinastia Ming tornou os originais chineses indisponíveis[89] - e, em última instância nas porcelanas de Delft. As loiças holandesas e inglesas inspiradas em desenhos chineses persistiram desde cerca de 1630 até meados do século XVIII, junto com os padrões europeus.
Antonio de Morga (1559-1636), um oficial espanhol em Manila, inventariou exaustivamente os bens negociados pela China Ming na viragem para o século XVII, notando que havia "raridades tais que, se referisse todas elas, nunca iria acabar, nem o papel seria suficiente."[90] Num caso, um galeão com destino ao território espanhol no Novo Mundo transportava mais de 50.000 pares de meias de seda. Em troca, a China importava principalmente prata das minas peruanas e mexicanas, transportada através de Manila. Os comerciantes chineses eram ativos neste comércio, e muitos emigraram para locais como as Filipinas e o Bornéu para aproveitar as novas oportunidades comerciais.[91]
Pormenor de baixela de prata numa pintura holandesa de Jan Davidsz. de Heem, a natureza morta"Uma mesa ricamente posta com papagaios", c. 1650
O aumento da riqueza experimentado pela Espanha dos Habsburgos coincidiu com um grande ciclo inflacionário tanto em Espanha como na Europa, conhecido como revolução dos preços. Em 1520 iniciara-se a extração de prata em grande escala em Guanajuato, no México. Com a abertura das minas de prata em Zacatecas e Potosí, na Bolívia, em 1546 grandes carregamentos de prata tornaram-se a fonte da fabulosa riqueza espanhola. Durante o século XVI, Espanha realizou o equivalente a 1,5 triliões de U.S.$ (valor de 1990) em ouro e prata da Nova Espanha. Sendo o mais poderoso monarca europeu numa época cheia de guerras e conflitos religiosos,[92] Filipe II dispersou a riqueza nas artes e nas guerras europeias. "Aprendi aqui um provérbio", afirmava um viajante francês em 1603: "Tudo é estimado em Espanha, excepto a prata."[93] A prata, subitamente espalhada por uma Europa até então carente de moeda, provocou a inflação generalizada.[94] A inflação foi agravada por uma população em crescimento, mas um nível de produção estático, baixos salários e um aumento do custo de vida. Espanha tornou-se cada vez mais dependente das receitas provenientes do império nas Américas, levando à primeira falência estatal em 1557 devido ao aumento das despesas militares.[95] Filipe II de Espanha, em insolvência face à sua dívida várias vezes, teve de declarar quatro falências do estado em 1557, 1560, 1575 e 1596, tornando-se a primeira nação soberana da história a declarar falência. O aumento dos preços resultante da circulação monetária estimulou o crescimento de uma classe média comercial na Europa, que viria a influenciar a política e a cultura de muitos países.

Nenhum comentário:

Postar um comentário