AUSTRÁLIA SELVAGEM


Austrália selvagem

A surpreendente fauna australiana vai muito além dos coalas e cangurus, em terra, ar e mar

Programa 542 

O Terra da Gente leva o telespectador para uma fascinante viagem pela Austrália selvagem. No mar e em terra, uma aventura atrás de animais que não existem em nenhum outro lugar do Planeta, como os cangurus, do maior ao menor - que só é avistado à noite. O raríssimo canguru das árvores parece um macaco, com rabo de mais de um metro de cumprimento. O apaixonante coala é um dos astros da fauna australiana. Dá para pegar no colo o mascote fofinho. O pássaro-gato é intrigrante: afinal, ele canta ou mia? O pássaro-arquiteto justifica o nome e a fama: ele constrói uma estrutura no chão da floresta para atrair a fêmea. Mas surpreendente, mesmo, é a ave-do-paraíso que, com a dança do acasalamento, protagoniza uma das mais belas cenas de amor da natureza. E até nas cidades a vida selvagem surpreende. Entre tantas aves coloridas, bichos estranhos como as raposas voadoras. Nas águas australianas vive o maior crocodilo do mundo. Outra atração imperdível é a magnífica Grande Barreira de Corais, um conjunto de recifes que formam um dos maiores redutos de vida marinha do mundo, uma barreira tão grande que pode ser avistada do espaço, pelos olhos dos satélites. No jardim submerso, uma explosão de vida e cores que ainda tem forças para resistir ao aumento da temperatura nos oceanos. Quem viveu esta aventura na Austrália - e conta aqui - foi o repórter Ciro Porto, acompanhado do produtor Aguinaldo Matos e do repórter-cinematográfico Carlos Alberto Coutinho. 

Cicatriz de vida
O nosso planeta nem sempre foi assim. Houve um tempo em que os cinco continentes formavam um só, chamado Pangéia. Há 140 milhões de anos, esse supercontinente se dividiu em vários blocos, que se deslocaram com o tempo até formarem os continentes de hoje. O menor deles, a Oceania, é formado por centenas de ilhas e a gigante Austrália, um lugar onde a vida evoluiu separada das grandes massas de terra.

Longe dos grandes continentes, a Austrália pode ser considerada um lugar muito especial em termos de vida selvagem. Quando você ouve falar no país, que bicho lhe vem à cabeça? Um canguru? Um grande crocodilo? Esses bichos podem até simbolizar a fauna australiana, mas existem muitos outros. Das 800 espécies de aves, quase a metade só existe em Cairns. Mais de 80% dos mamíferos não vivem em outro lugar. 

Já o mar... Bem, o mar é um capitulo à parte. Nele são descobertas novas espécies todos os anos. É uma coleção muito especial de formas de vida. Tanto que o único organismo vivo do planeta - que pode ser visto até do espaço - é a Grande Barreira de Corais australiana. Do alto, uma cicatriz da vida. 

Qual é a sua cor preferida? Azul? Mas qual tom de azul? Sobre a barreira de corais, a natureza economizou na cor e abusou dos tons. A Grande Barreira de Corais se estende por 2,3 mil quilômetros na costa leste australiana.

Cores e vidas
Se o azul não é a sua cor preferida, não se preocupe. Poucos metros abaixo da imensidão azul existe uma grande variedade de cores e formas. A transparência da água dá uma visibilidade de 30 metros. Se do alto a Barreira de Corais impressiona pelo tamanho, de perto, confunde. São tantas cores e exemplos de vida marinha que o mergulhador não sabe o que olhar primeiro. 

Diante de uma das maiores diversidades da vida marinha no mundo, imagine qualquer cor. Com certeza, você vai encontrá-la estampada num peixe ou num coral. Mais de 400 corais diferentes existem no local. O Brasil tem apenas 21. 

São animais marinhos, mas lembram plantas e, em conjunto, parecem criar um jardim subaquático. Um recife de corais pode ter milhares de anos. É formado por camadas de carbonato de cálcio produzido por bilhões de pequenos animais chamados pólipos. Cada pólipo vive em conjunto com uma alga invisível a olho nu, mas responsável por todas as cores vistas no recife. É ela também que produz, através da luz do sol, quase todo alimento de que o coral precisa. 

Quando observamos um recife de coral, apenas uma camada superficial está viva. O resto é esqueleto. Além de serem alimento de várias espécies de peixes e outros animais marinhos, os corais formam uma estrutura onde várias formas de vida se instalam: moluscos, poliquetas, esponjas e anêmonas. 

Veneno protetor
A diversidade num local assim gera inúmeras relações de dependência. Os peixes-palhaços e as anêmonas são um exemplo. Esses peixes só são encontrados junto com elas. Dentro da anêmona, os palhaços estão a salvo, protegidos por tentáculos capazes de queimar qualquer predador. Um sinal de perigo, e os palhaços recorrem a essa proteção, já que são imunes ao veneno. 

Já o peixe-leão produz o próprio veneno. Por isso, mesmo afastado do recife, pode nadar calmamente. Alguns peixes nunca se afastam muito dos corais, onde encontram abrigo nas emergências. A donzela-azul só abandona a segurança para se alimentar. Qualquer ameaça, e esses peixinhos desaparecem em segundos, nos abrigos. 

E - quem diria? - nos recifes de corais existe até pronto-socorro. Vários peixes que precisam se libertar de parasitas sabem onde procurar atendimento. Os enfermeiros realizam cirurgias delicadas. Ao se alimentarem, proporcionam o tratamento necessário. 

Pesquisadores já descreveram 1,2 mil espécies de peixes nas barreiras de corais da Austrália, mas a estimativa é de existam cerca de 2 mil, que, em conjunto com os corais, formam uma complexa cadeia de interações. A maior parte delas ainda é desconhecida. 

Aquecimento ameaçador
A diversidade da vida num ambiente como esse parece infinita. Mas a Grande Barreira de Corais é extremamente sensível. Tanto que o aquecimento global se tornou uma ameaça. Em 2005, a temperatura média da água subiu só um pouco, mas o suficiente para tirar boa parte da cor do lugar. Vários corais ficaram brancos. E branco, no local, significa morte. 

"O coral precisa da água quente, mas isso tem um limite. Se a média da temperatura excede um ou dois graus no ano, já é suficiente para o coral branquear e chegar a morrer. Isso vai depender da capacidade de o coral retornar ao estado anterior ao distúrbio que sofreu", explica o biólogo João Paulo Krajewski. 

Se de um lado o coral como um todo garante a existência de diversas formas de vida, um coral branqueado depende dos peixes para se recuperar. E justamente um dos mais coloridos - o peixe-papagaio - é dos mais importantes nessa tarefa. 

A pesquisadora da Universidade de Campinas (Unicamp) Roberta Bonaldo faz doutorado na Universidade James Cook estudando esses peixes. Na verdade, na Austrália, existem cerca de 30 espécies. Entre elas está maior do mundo: o papagaio-verde, que atinge até um 1,2 metro. 

Mudança de sexo
São peixes que desovam várias vezes no ano e têm a capacidade de mudar de sexo. Normalmente, um macho convive com um grupo de fêmeas. Se ele morre, uma das fêmeas vira macho. Uma estratégia para garantir a população desses peixes tão importantes aos corais. 

Num coral saudável, os peixes-papagaio dão a idéia de serem destruidores. Mas, na verdade, a maioria deles é responsável pela recuperação dos corais branqueados. "Assim como outros peixes que se alimentam de algas, os peixes-papagaio fazem uma limpeza das superfícies do recife, retirando as algas - que têm crescimento muito rápido - e permitindo o estabelecimento de novos organismos", esclarece Roberta Bonaldo. 

Para Terry Hughes, professor da Universidade James Cook e diretor do Centro de Excelência em Recifes de Coral, a grande barreira tem resistido ao aquecimento global graças à resiliência, ou seja, a capacidade de suportar uma agressão e voltar ao estado anterior. 

As temperaturas altas de 1998, 2002 e 2005 destruíram 20% dos corais no mundo. Na Grande Barreira, praticamente tudo que se branqueou se recuperou. Em boa parte, porque no local os peixes-papagaio não são pescados e puderam atuar na recuperação, o que não ocorreu em outros recifes do mundo.

Cangurus
O maior réptil do mundo é o crocodilo de água salgada. O legítimo representante do lado selvagem da Austrália pode medir até cinco metros e
 pesar mais de 500 quilos. Não há como não ter medo de um bicho assim. 

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